sexta-feira, 31 de julho de 2009

ESPAÇO:CANTOR FRANCISCO ALVES



Francisco Alves:

Francisco de Morais Alves, cantor, compositor e violonista. Nasceu no dia 19 de agosto de 1898 no Rio de Janeiro, RJ e faleceu em um acidente automobilístico na rodovia Dutra, entre Pindamonhangaba e Taubaté, SP, no dia 27de setembro de 1952, aos 54 anos.

Filho mais velho de José Alves (dono de botequim que tocava bombardino) e Isabel Morais Alves, um casal de imigrantes portugueses, Francisco Alves teve quatro irmãos, Ângela, José (que tinha uma bonita voz, mas faleceu aos 18 anos, vítima da gripe espanhola), Lina (que trabalhava como atriz de revista e rádioatriz e na vida artística adotou o pseudônimo de Nair Alves) e Carolina.

Seu pai faleceu em 1919 sem fazer fortuna. Chico já trabalhava quando o pai morreu. Foi engraxate e, a partir de 1916, operário em fábricas de chapéus. Quando a família não tinha dinheiro, Chico, ainda garoto, cantava nas ruas imitando o seu ídolo, Vicente Celestino (1894 ~ 1968), para conseguir algum trocado. Foi graças a Lina, sua irmã, que aprendeu os primeiros acordes num violão que ganhara dela. Decidido a ser cantor, fez seu primeiro teste com o maestro Antônio Lago, pai de Mário Lago. Teve aulas de canto lírico por três meses com o maestro Sante Athos (1850~1934). Sua carreira de cantor começou em 1918, no pavilhão do Meyer, na Companhia João de Deus-Martins Chaves e depois no Circo Spinelli. Paralelamente ganhava a vida como motorista de praça, função apropriada para um fanático por automóveis e que mais tarde o faria ganhar um extra na locação e comercialização destes. Também gostava do turfe e chegou até a ser proprietário de alguns cavalos de corrida.

Apaixonado por futebol, jogou no Tupi, de Mangueira e foi reserva do Bonsucesso. Era torcedor do América Futebol Clube.

João Gonzaga, namorado de Chiquinha Gonzaga, convidou Chico em 1919 para gravar seu primeiro disco em sua empresa, Discos Popular, e assim o jovem cantor gravou O pé de anjo e Fala, meu louro, ambas do compositor Sinhô.

Casou-se em 24/5/1920 com Perpétua Guerra Tutoya, a Ceci, "num momento de loucura", ele dizia, e uma semana depois já estavam separados. No mesmo ano conheceu Célia Zenatti, dançarina e atriz, com quem viveu durante 28 anos, até o fim de sua vida.

A partir de 1920, durante 15 anos atuou em teatros musicados, contracenando dentre outros, com Otília Amorim e Vicente Celestino. Levado à Odeon, gravou ainda em sistema mecânico cerca de 10 discos. Foi o primeiro cantor a gravar pelo sistema elétrico, sempre na Odeon. Em busca de repertório, Chico Alves foi ao Estácio e comprou o samba A malandragem, de Bide, com o qual faz grande sucesso. Continua "comprondo" músicas de Ismael Silva, Nílton Bastos, entre outros. Na verdade os compositores do Estácio devem ao cantor o fato de suas músicas começarem a aparecer. Era famosa a sensibilidade de Francisco Alves para escolher músicas a serem gravadas. Uma verdadeira intuição, e todas as músicas que gravava tornavam-se grandes sucessos. Era conhecido como o Midas da canção. Por isso passou a ser cultuado. "Alguns de seus admiradores costumam fazer serenatas sob sua janela, como se ele fosse a musa de suas canções. É claro que Célia, a mulher de Francisco Alves, aparece para agradecer com sorrisos a homenagem, talvez sem saber que é para o marido que eles cantam. Todos querem agradar Francisco Alves, querem ser ouvidos por ele, homem influente que tem força o bastante para dar a um cantor iniciante um contrato de experiência na Odeon." 1 E vários nomes nacionais fizeram-lhe serenatas: Noel Rosa, João de Barro, Almirante, Castro Barbosa, entre outros.

Cantou em várias rádios tais como: Sociedade, Mayrink Veiga e Nacional. Fez três excursões para Buenos Aires: em 1930, 1931 com Carmen Miranda e Mário Reis e em 1936, com Alzirinha Camargo e Benedito Lacerda com seu regional.

Em 1930 formou uma famosa dupla com Mário Reis, responsável pelas gravações de, entre outras, Se você jurar e Fita amarela. Gravaram juntos doze discos, com 24 músicas. Também fez duetos com Aracy Cortes, Carmen e Aurora Miranda, Dalva de Oliveira, Gastão Formenti, Castro Barbosa, entre outros.

Em sua carreira atuou nos filmes Alô, alô, Brasil, Alô, alô, Carnaval, Laranja da China e Berlim na batucada.

Na Rádio Cajuti teve um programa e foi responsável pelo lançamento do cantor Orlando Silva. Chico era considerado egoísta e tinha fama de pão-duro, mas ajudou muita gente. Não tinha medo de ser destronado. Dono de uma potente voz, seguro de si, lançou vários cantores, sendo, de fato, o principal, o cantor Orlando Silva. Esteve sempre no auge da fama, desde seu primeiro disco, "até o fim de seus dias, com uma carreira longa, sem curvas, sem oscilações e permanentemente no topo." 2

Ismael Silva e Nílton Bastos, do Estácio, fizeram um acordo com o cantor: tudo que ele gravasse da dupla seria dos três, e em troca Chico gravaria as músicas. Quando Nílton Bastos morreu, Noel Rosa entrou em seu lugar. Mas depois que ficaram famosos, tanto Ismael quanto Noel brigaram com Chico, alegando que este era mesquinho, explorador, frio e insensível. Como Chico trabalhava com carros, e Noel queria comprar um mas não tinha meios, o cantor ofereceu-lhe um carro "baratinho, que podia ser pago em sambas". E, proposta aceita, custou muito cara ao compositor.

Chico Viola (um de seus apelidos) gravou diversas versões de músicas estrangeiras. "Fenômeno vocal, com o dom de ‘clarear’ o som dos discos, não escolhia gêneros. Tanto cantava sambas, marchas, toadas, canções, como valsas, hinos, foxes, tangos, paródias, o que lhe pusesse na frente." 3

Particularidades: fumava quase dois maços de cigarros por dia mas não bebia. E detestava bêbados. Gostava, isto sim, de cafezinho. E tinha o cacoete de cuspir em seco. Como tinha fama de avarento, costumavam dizer pelos cafés que ele era econômico até na hora de cuspir.

"Na década de 50, D. Perpétua, sua ex-mulher, ressurge do passado esquecido para apontá-lo como pai de um casal de adolescentes, havidos com Chico, segundo ela, depois da separação de 1920. Perpétua vai à Justiça para ter o reconhecimento da paternidade de Francisco Alves, que, revoltado, negava, até se declarando estéril. O cantor venceu no primeiro julgamento, mas perdeu na sentença final, proferida em 1960, depois de sua morte." 4

O mais famoso de nossos cantores populares, O Rei da Voz, como também ficou conhecido alcunhado pelo "speaker" César Ladeira em 1933, fez 983 gravações. Foi o cantor que mais gravou no Brasil. Também foi um bom compositor. Criou mais de 130 músicas. Foi um dos mais carismáticos cantores de todos os tempos e emocionava todos que o viam cantar, até mesmo seus músicos.

Ironicamente, Francisco Alves morreu carbonizado num grave acidente de automóvel na Rodovia Presidente Dutra, na altura de Taubaté, a 27 de setembro de 1952. O cantor evitava viajar de avião, pois tinha pavor de morrer carbonizado como Carlos Gardel. Ainda era um grande cartaz na música popular. Sua carreira, iniciada em 1918 como cantor de circo, cobriria um período de 34 anos. E, caso raro em tão longa atividade, jamais conhecera o ostracismo, a decadência. Seu enterro, no cemitério de São João Batista, Rio, foi acompanhado por meio milhão de pessoas. Mais concorrido do que o de Carmen Miranda em 1955 e só comparável ao cortejo que levaria o corpo de Getúlio Vargas do Catete ao Santos Dumont em 1954. E pela primeira vez um carro do Corpo de bombeiros transportaria um morto. Sobre a lápide, esculpido um violão de bronze e as palavras de seu parceiro Orestes Barbosa:

"Tu, só tu, madeira

Sentirás toda a agonia

Do silêncio do cantor".



Três anos após seu falecimento, foi lançado o filme Chico Viola não morreu, com Cyl Farney no papel do cantor.

Foram escritas várias biografias sobre sua vida: a primeira, Minha vida, foi ditada por ele ao jornalista Mário Cordeiro (1936). A segunda, uma autobiografia, foi editada pela rádio Nacional, em fins dos anos 40, em forma de folhetim. A terceira, ditada para o jornalista David Nasser, chama-se Chico Viola (1966). Em 1988, Walter Teixeira Alves e colaboradores lançaram Discografia de Francisco Alves. E por fim, dez anos depois, Abel Cardoso Júnior, lançou, pela Revivendo: Francisco Alves - As mil canções do Rei da Voz, com quase 500 páginas dedicadas exclusivamente ao autor e suas músicas, com datas, comentários, histórias e biografia. Uma verdadeira obra-prima, que nos ajudou muito a trilhar a brilhante carreira de Francisco Alves.